Mudança de calendário PARTE 1
Ando acordando muito cedo, não tem nenhuma luz natural pela janela. O pior é que quando vou dormir é a mesma coisa, algumas vezes, resquícios tomam formas através dos vidros das janelas com sombras que me questionam o quão saudável seria dormir tantas horas e não estar sob o sol nenhum minuto do dia.
Num dia particular, que não sei dizer se era um sábado ou quarta-feira, percebi que estava almoçando às 10h e jantando lá pelas 4h... tudo errado! Não ouvia mais os sons da rua, o ônibus passar nem as aquelas insuportáveis crianças gritando.
Ao meu lado, acho que no dia posterior, um lugar vazio na cama, umas garrafas espalhadas pelo quarto, cinzas... Era um despertar lento como o de todos os dias. Tentei ver se havia luz fora da casa, mas chovia muito, atrapalhando ainda mais minha percepção de horário. Procurei por ela ao redor, apenas um gato pulava enlouquecidamente tentando alcançar uma lagartixa na parede.
Um sentimento tácito de medo me tomou uns segundos do dia. Procurei um cigarro ao levantar, na sala, na cozinha, nada! Apenas carteiras vazias.
Falei seu nome, repeti algumas vezes com intervalos de algumas respiradas mais difíceis.
Já não sabia se era sonho ou se algo real acontecia, meus pés gelados exigiam minha cama bagunçada e quente novamente. Aproveitei o esforço de ter levantado e fui ao banheiro fazer xixi, senti fome. Um pulo, já estava na cozinha, será que é hora de café, almoço, janta, madrugada? Ideia nenhuma me vinha. Um bilhete grudado na geladeira dizia: não esqueça que sua mãe vem nos ver hoje! Mas parecia que estava ali há alguns dias, pela disposição do imã meio pendurado ou pelo papel meio umedecido. Que mãe? De onde vinha aquela letra tão parecida com a minha?
Foi então que liguei a TV para ver se algo me ajudaria a entender tanta confusão em minha cabeça. Mas a internet não funcionava e não tinha canais abertos para eu poder investigar com mais paciência. Celular sem bateria, não achava o carregador... deitei na cama com fome e sem resposta nenhuma.
Parece que numa repetição de toda narrativa anterior acordei novamente, outro bilhete na geladeira, me alertava: "amanhã é aniversário da tua irmã! vê se liga pra ela!". Já não tinha o anterior. Fui fazer algo pra comer e ouvi baterem no portão. Claro que não havia luz, se era madrugada ou noite eu não sabia. Era uma vizinha que dizia: "levaram seus cachorros". Eu tenho cachorros?
Num esforço maior que o de costume, abri a boca para fazer a pergunta? "Que dia é hoje?", a vizinha respondeu que era quinta. Com ar de sarcasmo, como se fosse tão óbvio entender o que havia. Já estava no sofá com miojo... "sempre detestei essa vizinha".
Desde a quarentena iniciar eu perdi algumas coisas da velha rotina, dormir de manhã e acordar à noite não estava mais tão estranho como antes parecia.
Ainda não sei que dia é hoje, mas tem um monte de louça suja na pia. Acho que lavo amanhã, ou hoje mais tarde, ou não, acho que pode ser outra hora, talvez. Tem outra pessoa que mora aqui e a lavaria?
Num dia particular, que não sei dizer se era um sábado ou quarta-feira, percebi que estava almoçando às 10h e jantando lá pelas 4h... tudo errado! Não ouvia mais os sons da rua, o ônibus passar nem as aquelas insuportáveis crianças gritando.
Ao meu lado, acho que no dia posterior, um lugar vazio na cama, umas garrafas espalhadas pelo quarto, cinzas... Era um despertar lento como o de todos os dias. Tentei ver se havia luz fora da casa, mas chovia muito, atrapalhando ainda mais minha percepção de horário. Procurei por ela ao redor, apenas um gato pulava enlouquecidamente tentando alcançar uma lagartixa na parede.
Um sentimento tácito de medo me tomou uns segundos do dia. Procurei um cigarro ao levantar, na sala, na cozinha, nada! Apenas carteiras vazias.
Falei seu nome, repeti algumas vezes com intervalos de algumas respiradas mais difíceis.
Já não sabia se era sonho ou se algo real acontecia, meus pés gelados exigiam minha cama bagunçada e quente novamente. Aproveitei o esforço de ter levantado e fui ao banheiro fazer xixi, senti fome. Um pulo, já estava na cozinha, será que é hora de café, almoço, janta, madrugada? Ideia nenhuma me vinha. Um bilhete grudado na geladeira dizia: não esqueça que sua mãe vem nos ver hoje! Mas parecia que estava ali há alguns dias, pela disposição do imã meio pendurado ou pelo papel meio umedecido. Que mãe? De onde vinha aquela letra tão parecida com a minha?
Foi então que liguei a TV para ver se algo me ajudaria a entender tanta confusão em minha cabeça. Mas a internet não funcionava e não tinha canais abertos para eu poder investigar com mais paciência. Celular sem bateria, não achava o carregador... deitei na cama com fome e sem resposta nenhuma.
Parece que numa repetição de toda narrativa anterior acordei novamente, outro bilhete na geladeira, me alertava: "amanhã é aniversário da tua irmã! vê se liga pra ela!". Já não tinha o anterior. Fui fazer algo pra comer e ouvi baterem no portão. Claro que não havia luz, se era madrugada ou noite eu não sabia. Era uma vizinha que dizia: "levaram seus cachorros". Eu tenho cachorros?
Num esforço maior que o de costume, abri a boca para fazer a pergunta? "Que dia é hoje?", a vizinha respondeu que era quinta. Com ar de sarcasmo, como se fosse tão óbvio entender o que havia. Já estava no sofá com miojo... "sempre detestei essa vizinha".
Desde a quarentena iniciar eu perdi algumas coisas da velha rotina, dormir de manhã e acordar à noite não estava mais tão estranho como antes parecia.
Ainda não sei que dia é hoje, mas tem um monte de louça suja na pia. Acho que lavo amanhã, ou hoje mais tarde, ou não, acho que pode ser outra hora, talvez. Tem outra pessoa que mora aqui e a lavaria?
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