À verdade

 Desafio-me a relatar um movimento indubitável da vida: o decorrer do tempo.

Matei-me a caprichar nas súplicas, promessas e questionamentos sobre a efemeridade dos sentimentos, outrora, impostos como inexoráveis. Não são minha dores, descobri assim. A respeito do meu temperamento, só resta salientar que é permanentemente refém da disparidade dos desejos alheios. Porém, a liberdade, que deixei adormecida, faz sua emersão por força da dolorosa e paulatina indiferença recebida.

Além dos desejos desamarrados, há a possiblidade de reverter a falsa impressão de uma vida já finda. Com meus sorrisos, a espontânea colocação da feminilidade flamejando, meus medos se dissiparam nas horas de espera pelo impossível retorno de algo que era etéreo.

Se aparento abstração perante a fatalidade da partida, peço perdão, meu ímpeto é manipular a minha própria existência, negligenciando a superioridade indiscutível da minha capacidade de ressurreição. Mas a linguagem conotativa sempre me representou mais, constantes que são minhas habilidades de poetizar e condicionar minhas vivências ao nível de um bardo ébrio. E pontuando, sem restrições, que parte das minhas palavras cuspidas vêm do contexto alcoólico advindo de escolhas racionais por encostar na lama do fundo do poço.

Entretanto, despi os gostos, abri as jaulas da fera que nunca adormeceu mais do que uma noite. O gozo, sorriso, entrega, vastidões de idiossincrasias ferozes e de intensa malícia, conquistaram seu espaço na cama, rua e na rotina.

Explicitando o que antes mantinha tácito por vaidade, agradeço ao desprezo, à imaturidade e a ingratidão recebidos. Pois só através de ingerir e digerir tais dores, fui capaz de ser sincera sobre a satisfação de pertencer a mim mesma, sem amarras, com toda minha força, para ser a mulher que sempre fui e por monótonas comodidades eu escondia.

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