Entre para o eterno arrependimento
Gran (quase) finale
_ Veja! Admira sua despedida?
Ouço perplexo, a voz que ousara duvidar ter realmente existido, não pode ser
real. Nada mais faz sentido. O que eu fiz?
_ Sua morte, não era seu plano? Concluíste eficazmente. Só tenho o prazer de
dar essa espiada contigo aqui nos bastidores.
_ Com todo respeito, vai se fuder! Que morto volta a sua casa, acorda, quer ir ao
banheiro, vê TV e dorme de novo?
_ João, João... só pessoas como você me fazem perder o que chamam de tempo
para dar o que chamam de explicação para o que vocês querem de respostas. Não tem
muito mistério. Tudo acontece ao mesmo espaço de universo, poderia colocar dessa
forma, talvez. A sua escolha pela finalização daquele período da vida, foi uma
inesperada reviravolta nos meus planos para você. Os seus bilhetes, que eram meus na
realidade, tinham as coordenadas para uma outra etapa de desenvolvimento naquele
período digamos, desértico, da sua vida. Mas, a ociosidade misturada ao egoísmo e
mediocridade moral da sua pessoa resultaram nisso.
_ Quero voltar! Agora! Não me mato, faço tudo de novo, trabalho sabatinante,
rotina insípida, família, etc. Só não aguento esse modelo mental de existência sem
materialidade, ou falsa materialidade, que pôs minhas descrenças em jogo, minha
coragem inabalável nessa linha ridícula de olhar por fechaduras e ver essa gente inútil
sorrir sarcasticamente a três metros do meu caixão.
_ Pois é! Passei por esta situação com Sócrates, negando ter tomado o veneno
por vontade própria, aquele animal racional e narcisista! Outros mais contemporâneos,
como seu amigo da guitarra, o loirinho, só reclamava das dores de estômago, enquanto
eu dizia para ele que já tinha arrumado um bom médico e omeprazol ajudaria, a filha
dele agradeceria depois...
_ Mas eu não sou nada! O que de grandioso poderia viver, bastava o tédio e a
resignação da minha solidão! Esse é o castigo dos suicidas?
_ Volte ao seu apartamento, leia o que “escrevemos”, ouça o recado de sua mãe
no celular, e veja o bilhete da menina que dormiu contigo umas noites antes da sua
decisão; mesmo que seja tarde e logo nos encontraremos aqui para ver seu enterro,
quero que saiba por que deixei alguns terremotos ocorrerem por tua causa.
-A mensagem da mãe: “filho, seu pai precisa de uma doação de medula
urgentemente, talvez você possa ajudar”
-O bilhete de Isa: “Voltarei quando quiser, nunca senti nada por ninguém como
senti por você aqui”
-Nossas palavras: “Ainda há tempo de mudar, basta acordar, não puxe o gatilho,
ainda.”
Muito bom
ResponderExcluirPassei a te acompanhar hoje aqui . Parabéns
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