Mudança de calendário Parte II

 Enfim, a roupa não foi lavada. Esfrego os olhos com a intenção de enxergar melhor e troco a finalidade pretendida por imagens assustadoras. O monte que se ergueu no canto do quarto é colorido e tem cheiro asqueroso, parecendo se aproximar dos meus pés sussurrando, pés que até então estavam aquecidos apenas por um par de gatos esticados, os quais, que percebendo a movimentação recente acabam por atacá-los. 

Com mais uns arranhões tento pertencer aos dias, na tentativa de que eles venham a me pertencer e extinguir a agonia de não mais tê-los em ordem, ou quantidade numerável. São noites nas tardes e tardes em pequenas frações sensitivas de madrugada. Pego um copo de suco velho, mas cheguei à conclusão de que estava velho apenas pelos sedimentos no fundo da jarra e pequena quantidade de líquido. Afinal, seria uma analogia real à química básica.

Falta comida para os bichos da casa, estou com fome! Cozinhar seria a melhor alternativa, já que não tenho acesso às facilidades "entregadísticas" da atualidade. Meus "ais" são só de dor mesmo.

Continuo a procurar uma toalha, enquanto penso que um banho me despertaria. Sento-me na cama e desisto. Já não tenho noção da sequência das atividades que pretendia realizar, nem de suas importâncias, uma lágrima rola pela face oleosa e com a gravidade aumentada da minha apatia, caio absorto sobre as cobertas emboladas na cama há dias (ou meses, horas, luas).

Regresso a pensamentos mais otimistas, tal qual a sorte de não ter que ir trabalhar, sem ao certo saber se já tinha o feito ou faria. Novo enfim, volto ao sonho do lugar que parei faz umas piscadinhas.

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