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Qual a probabilidade de estar tudo conectado? O que seria o tudo, ele é o oposto do nada?
Bem, já que o nada suscita, e o motivo de eu estar escrevendo aqui neste exato momento, que já não é mais um exato momento, é o fato de que preciso dizer para fora de mim que eu não consigo mais.
O nada para o qual o meu amor voltou, meu amor? Quantas vezes neguei amá-lo, reclamava de detalhes ínfimos e desejava outra sorte, então todas as vezes a conclusão à qual chegava era de que sempre o teria como amor que mais doeria.
Há 33 dias não ouço mais sua respiração, há 33 dias luto para dormir, fujo da sua lembrança para não entrar numa escuridão sem fim, há 33 dias a mais avassaladora solidão tomou conta da minha vida.
Não existe pílula milagrosa que contenha a inquietação da "alma", sem esperanças de encontrar com seus olhos em outra esfera, vida ou nada. São orações curtas, o pensamento se confunde à palavra.
Escrevo aqui, pois sei que o ambiente, mais despretensioso para que eu exponha o mais sincero do que paira aqui, é inóspito, paradoxalmente um esconderijo para minhas mágoas, ninguém (me) lê!
Chego a um ponto importante: existe, enfim, um desejo de autoflagelo ou uma mácula que envolve uma autopiedade?
Evito isso para mim, parecer exigir atenção é vil na minha concepção, mas não seria natural que façamos uso de tal máscara para fugir daquilo que realmente queremos dizer?
A minha dor, a minha dor, a minha dor... Olha! Ela é realmente só minha, nem maior nem menor que de outrem, porém e certamente minha. Que eu viva com ela!
Fortaleza, resiliência, ingratidão, desapego... tudo passa a ser por alguém um atributo meu, já que saber o que se passa na mente de outras pessoas numa situação como a minha é pouco provável, por mais empático que seja o sujeito. Os amigos são amigos quando o querem ser, cada qual com seu momento e suas reflexões e problemas, suas existências e temores.
Fiquei 15 anos da minha vida imaginando que nada poderia me separar do Renato, nem mesmo as traições, as manias, as "faltas de amor"... não cogitava, além de uma sensação nominada, que ele pudesse realmente sair da minha vida tão cedo. Somente ele neste universo sabia me ler e jogar todos os jogos que ele pudesse ganhar, embora tenha perdido alguns, na leitura dele.
Desafiei a mim, despedi-me com um sonho na mala, foram quase sessenta dias a menos ao lado da pessoa que mais amei e odiei em toda minha vida. Não sabia que você iria tão rápido, perdão, meu amor! Que cruel eu fui comigo e contigo, meu egoísmo ainda diz que não fiz errado, não fiz para ninguém além de mim, que tenho menos do seu cheiro, menos tempo ouvindo o som da sua voz, bebendo menos da sua respiração. Que abismo se abre sob meus pés quando sei que nos despedimos há 33 dias, não sei se ali meu amor estava, apenas segurei aquela mão que por tanto tempo aqueceu meu corpo e meu espírito, senti o pulso viver pela última vez para aquela tão alegre e esperançosa vida que se ia sem maiores explicações.
Consigo vê-lo sentado, de longe, onisciente, eu consigo ler seus pensamentos para o futuro. A calça frouxa, olhos azuis brilhantes, a camisa de banda... um coturno arrebentado. Sua magreza e sua energia eram da mesma proporção, seus sonhos o consumiam, as ideias afloravam e todos o sentiam vibrar. Em sua mente, nenhum medo de perder a juventude, via-se velho a cuidar de uma horta.
Não realizei seus sonhos, não pude deixá-lo viver mais. Daquele menino só resta a efemeridade do espectro de sua vitalidade.
O que eu quero dizer não há quem possa entender. Uma luta em mim: entre o querer continuar e saber que nada mais resta para que eu faça aqui.



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