Agora

 Daqui de perto escuto tão latente sofrimento escondido neste silêncio.

Mais um ano que se passou nas tentativas falhas de consultar os segredos da morte. Errada sempre sinto a minha atitude, inclusive a respiração e inspiração. São desejos? Por que entregamos o nosso refúgio imaterial aos que vêm solenemente?

Não minto, mas preciso calar, seria herança antiga de poetas sofrer e ser louco e portanto assim poderia eu me classificar?

Até a pretensão me afugenta das palavras e postura, não gosto de pensar que por trás dessa carne machucada há algum "excesso" de cultura.

Arde o dedo que prendi na porta, mais do que o furo no nariz que fiz achando ser convincentemente jovem para tê-lo. Luzes fracas, perguntas com respostas frágeis, parecem reter medo. Aos sinais que interpreto na liberdade dada dentro desse silêncio, ou palavras superficiais que não ocupam a lacuna, eu me vejo presa num enredo dramático, quase funesto. 

Centelhas criadas por desejos, ritmos construídos sob paredes de preceitos... Definitivamente não me entendo, ou pior, entendo até demais! O que seria o primeiro passo para um cruel desfecho de mim mesma. Fazes por obrigação? O que ganha seu coração? Parece que vive em maré calma, mas em mar aberto numa cápsula à deriva... 

Tinges minha imagem com cores brilhantes e vivas para que possas usufruir dessas cores ao destilar seu incolor veneno?

Posso voltar ao hospício, posso ser louca no quintal, ou até mesmo numa sala cheia de sorrisos inteiros.

Mas sei que não quero sentir essa culpa pesada, incógnita, que ronda e ecoa como um espírito cego e maldoso em minha mente o dia inteiro. 

Abram-se as portas, quero verdades, elas são amaldiçoadas pelo poder da liberdade, que é responsabilidade para poucos.


#C.F. #estedia,agora



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