Desafiando a antagonista (crônica)
Procuro emoção até ao lavar o rosto, perante o espelho de um dia novo, com as lágrimas misturadas ao rímel que marcou os olhos na noite não dormida, ou quase. O reflexo é outra pessoa que sai numa guerra contra mim, mostrando o lado obscuro através das expressões constantemente disfarçadas, nos momentos em que não atuo sou aquela que traz o pecado e a culpa expostos nas olheiras - as quais se assemelham aos fundos de poços nos quais já me joguei - e delas, saltam os medos que paralisam a sequência do filme do qual quero ser a protagonista.
Vem a vontade de matá-la, ela diz estar morta. Sei que é falsa sua verdade, consigo enxergar o que queremos, apesar da distância entre os polos. Porque aquela, de ontem, conheço mais que a de agora, passei por ela junto com várias doses, loucura e veneno.
Depois de lavar a cara, nos assemelhamos, vamos ao encontro do enredo da rotina que inicia. O batom é o mesmo de sempre, acho que deixei escolhida a roupa a ser vestida...
Busco algumas tristezas na mente, parece que o masoquismo concomitante à autopiedade se faz um início de narrativa perfeito, procuro pelo meu Byron. Poesias passam escritas nos papéis da aspiração, então não respiro, "por quanto tempo posso aguentar?", e olha que não é quase nada para alguém que algumas vezes já tentou se matar.
Chamam-me, mas qual o meu papel? Hoje serei vilã, mocinha, dona de bordel? Não sou atriz! Oras, apenas uma locutora de regras. Preciso de perigos novos, reviravoltas e enfrentamentos para traçar um episódio mais "scorcesiano" dessa série literal. Dirijo ouvindo músicas que me fazem chorar, a cada semáforo vermelho acendo um cigarro, hiperbolizando o ato, acho que pelo menos dois quando eu chegar já terei fumado.
E se não conhecer o amor da minha vida hoje? Preciso de algo que equivalha, mas normalmente é só a falta de gasolina que pode causar alguma emoção, faltam boas notícias. Quando vejo, estou frente àquele espelho, encarando a antagonista que mostra ser forte, ficando ali a interrogar silenciosamente a pretenciosa mulher que saíra decidida a fazer uma história diferente e não teve capacidade de mostrar, mais uma vez, aquele velho sorrisinho sarcástico de manipuladora, que outrora podia elogiá-la pela beleza que refletia.
Amiúde venho ler os seus textos e aprecio como você discorre bem sobre os sentidos a vida das imagens e sensações na pele que teimamos em conhecer empiricamente só para saber no que vai dar .
ResponderExcluirAgradeço a apreciação, motiva a não descansar a ilusão.
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