Filosofando sobre a decepção, racionalizando-a talvez.

 A diferença mais contundente entre um possível desapontamento e uma decepção está no contexto histórico de: a vida é sua e a estrague como quiser, acreditando no que quiser.

O abismo que nos olha de volta, como já entre as palavras de Nitinho, está esperando seu foco. Ficamos ali na conveniência de comportamentos e palavras e promessas... parece que uma decepção está distante, até que ela nos puxa para o abismo.

No discurso mais prático, não podemos depositar em ninguém a nossa felicidade, porém o que quero destacar aqui é a ausência de empatia e a modulação abrupta de personalidades que podem causar muito mal até aqueles que se abstiveram de inserir tal fardo a outra pessoa.

A decepção fere profundamente, quebrando os vasos que enfeitavam nossas mesas. Andávamos sob o mesmo guarda-chuva igualando os passos, por várias chuvas, de repente o passo do outro vira corrida, levando o teto, deixando a água nos molhar, inertes aos cortes das gotas afiadas.

A culpa é sempre do decepcionado então. Mas as marcas que serão indeléveis não! 

São pessoas diferentes, sempre de versões específicas, o que pode ser o escudo dela é para nós a espada atravessada.

Não precisamos aceitar ou concordar, mas tentar entender é o mais plausível. O que ela faz sabendo que está te ferindo é um mal dela! Atinge sim, mas não são suas armas que conterão esse ataque. 

Decepção real vem de onde se teve mais confiança e amor, nunca de alguém com a previsibilidade de te largar molhado na chuva fria. Muitas vezes o que foi levado era seu guarda-chuva, sua transparência, seus medos e fragilidades que estavam ao dispor do outro.

Todos virão a dizer que passará... isso não é incomum, muito pelo contrário, o que se tem a dizer é isso!

As memórias dos discursos que te prenderam por muito tempo, de alguém alimentado pelo seu afeto, seu cuidado, parecendo entender e retribuir, não saem do decepcionado.

Desrespeito e indiferença, marcas da decepção. Nada é intransponível, porém a rachadura moral e o elo que desprendeu jamais voltarão ao seu estado inicial. 

Machucar e ser machucado, vida que segue... só que a falta, já Platonizada, faz o desejo emergir ainda mais. Os conflitos internos demoram mais a serem resolvidos quando não se é um mero deslize e sim uma caminhada toda que foi atropelada,. 

A dor visceral é incompreensível para quem não a sente, o que se pode fazer é apenas se bastar nas buscas pela cura. Aqueles previsíveis seres humanos que nos desprezarão podem ser recriados em outros potes, facilmente. 

A dor é real, mas cabe a um só remediá-la. Filosoficamente ou não, os sentimentos não podem ser escolhidos, mas agora, penso que posso escolher o que fazer com isso. 

Aquele momento de indiferença, surpresa negativa, desrespeito a nossa identidade, serão todos relembrados, até que sua idiossincrasia, vendo por Hume, nas paixões filosóficas, fará sua atitude ser instrumentalizada no sopro, as cordas serão deixadas no piano velho.

Escolher as notas, que farão a música tocar em um ritmo em que suas emoções são mais ritmadas por sua ordem. 

As emoções das cordas afetivas terão um destino mais feliz.

Alegoricamente ou não, continuo com alguns sons reverberando, mas há de haver o silêncio dessa dor. Basta fugir dos estímulos. 

O silêncio precedente a paz de belas canções é a primeira estação a ser procurada, ou seja, desligar um pouco o rádio e esperar a próxima canção.

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