Mudança de calendário - VII adiantando o relógio

São 10h30min, manhã ensolarada, vejo no meu Cassio velho ainda funcionando, jogado num canto do quarto,  não faço distinções entre o que houvera entre o outono de cinco anos atrás e este -  cuja tal estação me permito lhe nomear pela quantidade de sol e temperatura que recebo sensivelmente. Apenas o silêncio que rodeia a cidade, a falta de buzinas, os vendedores de vassouras que não estão a anunciá-las, suas vozes microfonadas  pela natureza da necessidade, fazem-se pedras intransponíveis ao tentar colocar meus sapatos.

Depois de lavar corpo e sacudir mente embaixo da água gelada, sem sabonete,  mas com um resto de xampu encontrado, vagarosamente fui abrindo os olhos, qual um paciente deitado num divã Freudiano saindo do seu mais profundo contato com o enigmático código escondido na psiquê latente humanoide.

Claro, sou alguém que por algum privilégio, vem se mantendo vivo e protegido, de algo que aparentemente não é uma gripezinha, tampouco um fenômeno isolado na minha quase metrópole. Sou solitário, mas não abandonado. 

Juntando o que sobra de lucidez, volvo-me aos livros que empoeirados ladeiam meu quarto, a palavra aurora quase se destaca em neon, vou ate Nietzsche, regresso ao meu filósofo incipiente interior, é hora de entender, ainda penso, portanto aqui vivo, preciso escapar à caverna e descodificar o calendário arranhado, e os bilhetes variados.

Com fome, ainda procrastino. 

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