Um minuto antes de dormir

 Capítulo 0

Se não fosse aquele ônibus perdido, talvez eu não tivesse arriscado tanto.

Infelizmente a ociosidade manteve minha capacidade criadora trancafiada numa garrafa de vinho por longos anos. Assim que a garrafa foi “quebrada”, a pungente verdade iluminou fortemente aquele caminho sem volta. Eu, com trinta e cinco anos, solitário, às voltas com meus papéis de parede cheios de listras horizontais, não vejo pra mim sequer um horizonte. Portanto acho pertinente lançar aqui agora, o que provavelmente foi a razão da minha odiosa descoberta.

Comprei um revólver de um amigo do amigo do primo do vizinho do cara que vendia uns calmantes para mim. Eu mataria aquele homem que esperava mais de vinte minutos todos os dias. Ele esperava aquela lata velha abarrotada de seres despossuídos de sucesso, e nela ele entrava. Mas um dia ele perdeu aquela rotina, e andou bons dez mil passos a mais para sua casa. Esse homem, boa gente, creio que explicitamente seja eu.

Calem-se agora os que não odiaram a própria respiração, uma única vez que seja!

Comentários

Postagens mais visitadas