Relatos subterfugiados pelo transtorno borderline
Eu queria estar contente, porque passo o dia com meus amados gatos, tenho uma boa internet, posso assistir às séries teens da netflix sem ser julgada por ninguém; bebo álcool todos os dias, fumo meus cigarros, tomo banho quando quero, ouço as músicas de que gosto, quando quero.
Eu devia estar contente, parafraseando o maluco beleza. Realmente tenho a vida "despreocupada", confortável e sem responsabilidades grandiosas como muitas pessoas gostariam de ter.
Eu devia estar contente, porque tenho um carro velho, mas ele é meu, apesar de não estar no meu nome.
Eu devia reverberar alegria, já que tenho amorosos e presentes pais, também um irmão amoroso.
Mas tenho estado muito ocupada sendo a pessoa mais solitária que imaginara ser em toda minha vida.
Não há mensagens, nem ligações, nem contatinhos, nem sexo casual. Não me depilo há muito tempo!
Não sei se é relevante, mas ninguém me perguntou, até hoje, como é ver a pessoa que você amava morrer na sua frente, segurando a sua mão, depois de sofrer um longo tempo numa cama de hospital;
Acho que não conheço, além da minha mãe, alguém que já tenha visto alguém que ama morrer na sua frente.
Acho que morrer com a boca escancarada cheia de dentes numa poltrona, numa casa, não apartamento, não está muito longe de ser uma boa finalização para esse enredo dramático.
Só que minha cabeça sempre inventa um jeito de reviver, querer, mesmo que momentaneamente, recuperar a esperança de viver. Deixo algumas óbvias falácias me persuadirem, fingindo para mim mesma que não sei que tudo não passa de mais do mesmo.
Sou inteligente ao ponto de ver que escolho, menos aquilo que não pude evitar, há uns quatro anos, de ver a morte chegando para aqueles olhos azuis que me conduziam (mesmo que como um cego ao volante), os meus passatempos nocivos, minha inércia, meus segredos e mentiras.
Que espécie de vida eu vivo? Boa, ruim, literariamente plausível?
Não sei se respirar esse pesado ar fumacento me dá chances de reencontrar alguma partícula de verdade em mim, mas não tenho forças suficientes para admitir que tenho toda capacidade do mundo de me reerguer.
Só a solidão é mais severa que a falta de compreensão.
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