Telas e liberdade

 Telas, losangos feitos de um material do cotidiano, aprisionam as feras. 

Vendo esse limite que impus aos meus denominados "filhos", com a pretensão de protegê-los de dentes, pneus e venenos, percebo a analogia mais simples que possa surgir desse riscado ambiente protetivo.

O que é a liberdade além das telas? Se não a conheço, permaneço na caverna. Há dias em que nenhuma notícia deixo chegar a mim, abstendo-me dos perigos que existem lá fora, Eu me aprisiono, talvez não conscientemente.

Não ter a experiência faz com que não a desejemos. Tal qual Kaspar Hauser, postos em privação ao que é real aos demais, não aprendemos, nem sequer há a possibilidade de vislumbrar diferentes contextos. Não desenvolvemos a comunicação com este mundo incógnito, então.

Das divagações que transcrevo aqui, algumas podem ter derivação da observação daquela janela visível, outras de uma fresta dentro da minha mente que investiga um universo que me atento a descobrir se pode ser crível.

O que não vivi e que direito de ter usufruído eu perdi?

Nem os gatos sabem, jamais, quiçá, eu saberei. 

|Liberdade depende de experiências, as que nos permitimos vivenciar e as que nos são permitidas empreender. Tudo vai ficando num vão filosófico, de realidade possível, de mundos cogniscíveis, de portas abertas ou não.

Já que não temos apenas a liberdade de Rosseau para discutir, o mundo se voltou contra premissas da permissiva atmosfera revolucionária. Somos fantoches, ouvimos o que as orquestras vis nos tocam, não mudo a estação da rádio e encontro o que escolho.

E o que é a escolha?

A janela permanece com suas telas, só há aquela misteriosa luz que nos hipnotiza, e a eles, através das frestas da caverna.

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