O melhor episódio a que já assisti: meu "eu" em ação

Não precisei pagar o ingresso para assistir ao épico episódio em que eu atuei como eu mesma.
Confortável, sento-me perante meus defeitos, que agora são cenas deliciosas de degustar com os olhos e minha mente. São partes de uma mulher guardada, ou talvez escondida, atirada... num poço há muito tempo. 
E de lá mesmo que são produzidos meus textos, as narrativas que sussurravam e pediam sua transcrição em meio ao desespero.
Procrastinar, negar, inferiorizar-me, dramatizar, valorizar tão pouco a vida (isso pelo olhar de terceiros), eram as principais condições do meu espaço solitário, imersa na solidão dos meus pensamentos, acatei a ordem da minha terceira personalidade (falarei dela num outro momento).
Se para alguém neste universo visível valeu a minha história, esse alguém sou eu. Porque agora vejo todos meus defeitos como joias adornando meu corpo, não este já gasto pelo tempo, mas meu corpo da existência.
Amanhã, é possível que esteja deprimida e mais niilista, mas pelo agora... Ah! que delícia admirar o que me tornei até aqui.
Se uma mensagem não chegar, se o telefone não tocar (quando eu puder ter um novo), não terei a sensação de que faltou algo, estou cheia de mim. 
Para alguém que sempre odiou os clichês de amor próprio, eu me entrego à falta de modéstia, embora, secretamente, eu sempre soubesse, SEMPRE, que nunca fora ovelha branca.
Grito para as paredes, mas os meus gatos entendem. Choro sozinha agarrando o travesseiro, mas em algum lugar a minha dor outras pessoas sentem. Comigo não estou mais solitária.
Gostaria que uma câmera estivesse filmando meus programas criados diariamente, monólogos carregados do drama que poucos entendem, minha críticas literárias sobre Dickens, e meus discursos inflamados sobre o BBB. Há dias em que vejo as notícias, tragédias que se "apagam" numa semana, reflito sobre o conteúdo, às vezes escrevo sobre, às vezes esqueço.
"Que narcisismo brega!" uns podem inferir a partir disso tudo, porém se alguém pensar isso, sabendo o que realmente narcisismo significa, para mim já valeu muito.
Não me arrependo de ter esperado tantos anos para tentar me assumir como escritora, pois foi nessa contagem cronológica que fui adquirindo cicatrizes, dores e loucuras, quiçá premeditadas, que sustentam os planos, que surgiram, vieram do silêncio, emergiram do caos, clamaram-me por liberdade dentro desse cenário insano.
Ainda não foram curadas as doenças que estão de carona em mim, talvez eu morra hoje, ajudar-me-ão então a produzir as cenas finais do filme da minha vida. 
Minha palavra favorita ainda ecoará, IDIOSSINCRASIA! Pois as minhas, todas elas, depois de tantos medos, agora as amo.

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