Cadê você, Rafa? ( Conto enviado para um concurso, o qual não venci)

 Cadê você, Rafa?

       Acordei sobre um tapete vermelho, sem memória, olhei através de uma porta entreaberta e vi um elevador desconhecido. Num apartamento em que nunca estive, olhei com estupor ao redor, o lugar que era cheio de fotos minhas. Vi meu gato preto dormindo no sofá, confrontei-me com um hiato de dois anos que sumiram de mim. Pelo celular jogado no chão verde, daquele lugar estranho e cheirando a álcool, descobri a data real, falei com um cara com quem antes não tinha intimidade, mas que naquele momento se tratava, esperava, de um bom amigo.

        Sem questionar muito, pedi que viesse me buscar, no caminho falamos dos últimos “rolês” – que só ele sabia – inclusive dos caras que eu estava pegando e das meninas também! Nossa, eu era “super” cheia de reservas, até o último fechar de olhos. Enfim, sem expor minhas surpresas e a falta de memória, sondei até saber que estava viúva há dois anos, mudei-me de casa, viciei-me em diversas drogas e já tentara suicido duas vezes. 

         Só queria sumir. “Nova máquina no mercado”, disse ele. Entre um cigarro e outro pedi para que me levasse ao tal lugar, comprar o algo inusitado, pronto ele me disse que estávamos indo à loja de “máquinas do tempo”, o tal futuro chegando, ironia. 

        A placa à entrada sinalizava uma promoção delas. A loja estava prestes a fechar, a vendedora se recusou a nos atender, dizendo que seu autocar estava a esperá-la. Não são mais comuns lojas físicas (disso eu lembro), porém, aquela velha idiossincrasia do ‘corpo mole’ vive. 

        Engulo as dores que ainda não reconheço, levo a mão à bolsa, arma, hum! Matei a bela vendedora, talvez nem fosse uma pessoa real, imagens distorcidas...  um raio na testa. Olha, a versão zumbi 3,9, "acho que não estou anacrônica, estou?" Rafa aqui me surpreendeu. Entramos na máquina, voltamos há uma hora mais cedo. Compramos a máquina, honestidade sempre. Agora, vejo minha casa, este computador, nossos rostos em retratos de papel, meu marido numa caricatura cruel da tristeza enfrentada, traços de redescobertas, objetos e janelas semiabertas. Facebook, Twitter, Instagram, coisas tão engraçadas. Pegamos uma cerveja, de lata! Tomamos o líquido gelado e ouvimos Pink Floyd. Volto? Perguntariam de mim no futuro?

C.F.


P.S. Adaptado, a partir da junção de dois contos diferentes, ambos são meus, claro.

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